estou comendo os figos antes que apodreçam
uma perspectiva positiva da metáfora da figueira da Sylvia Plath
“Eu vi minha vida ramificando-se diante de mim como a figueira verde da história. […] Eu gostaria de devorar a todos, mas escolher um significava perder todos os outros. Talvez querer tudo signifique não querer nada. Então, enquanto eu permanecia sentada, incapaz de optar, os figos começaram a murchar e escurecer e, um por um, despencar aos meus pés.”
A redoma de vidro
Já me perguntei muito se um dia serei escritora. Parei de perguntar e comecei a escrever. Já me perguntei se um dia eu terei uma papelaria, se farei artes manuais e as venderei em feiras. Parei de me perguntar e comecei a criar minha própria papelaria pessoal. Já me perguntei se um dia eu criarei os meus próprios quadros. Parei de me perguntar e comecei a desenhar.
Já fui atriz, roteirista e diretora de teatro no colégio. Já fui filósofa, aventureira e dançarina. Já criei projetos que só existiram no esboço. Quem determina o que precisamos fazer para sermos alguma coisa? Acho que sonhar já é tão grandioso. Há pessoas que nem a isso se permitem, ficam presas nas perguntas e acabam fazendo o que vida faz delas. Felizmente, muito nova, percebi que pra ter o que eu quero eu preciso ir atrás. Nem tudo será possível, mas eu posso tentar, ver qual é.
Já pensei muito em ter um blog e aos 15 anos eu fiz um. Escrevia pra meia dúzia de pessoas (talvez nem isso). Hoje escrevo para mais de 500. Aquela Ágapy sabia que aprender era um longo caminho, então começou o quanto antes. Quase 10 anos depois estou sendo quem sempre quis ser, mas só porque eu me permiti ser assim já naquela época. Já pensei em ter um canal do youtube também aos 15 e o criei, naquele mesmo ano. Até hoje guardo com muita nostalgia os preciosos vídeos que gravei naquele período. Anos se passaram e estou reconstruindo isso, quase 3 mil pessoas me acompanham no youtube. Não são números expressivos, mas vejo verdadeiramente como são importantes. Não quero perder isso de vista.
Eu não sei o que foi destinado pra mim, se é que algo foi. Só sei que eu sei o que eu quero e eu vivo de acordo com isso. Quem determina o que preciso fazer para me tornar alguma coisa? Já não a somos quando desejamos e tentamos? Decidi parar de perguntar e ser. Quase uma brincadeira infantil em que qualquer mundo se torna real em apenas alguns minutos. Já fui espiã, já fui princesa, já estive nos lugares mais lindos e nos mais assustadores do mundo. O que me impediria de ser todas as possibilidades que desejo? Eu sei que na realidade as coisas funcionam de modo a nos limitar muito, principalmente para quem é pobre. Mas eu sei também que querer já é algo importante.
Estou fechando os olhos e me tornando tudo o que quero ser. Estou comendo todos os figos, fazendo um banquete. Ao menos uma mordida em cada um eu posso (tentar) dar.